Thursday, May 17, 2012

Pontes, cordais, saddles e timbre - Parte 1

Durante meus inúmeros experimentos de captadores buscandos os timbres que tenho na minha cabeça, por muitas vezes me sentia em um beco sem saída em que eu já havia tentado de tudo (ou quase tudo) na parte elétrica da guitarra e não conseguia chegar no timbre que eu queria! E olha que eu sou insistente! De repente parece que aquela porta trancada no fundo do beco se abria e a lovoiura estava salva quando colocava uma ponte diferente. Parece que a guitarra toda era outra e aquele som que eu queria tanto, aparecia com todas as suas nuances. Pode parecer exagero, mas em alguns casos a diferença é bem brutal, em outros é só aquele pelinho, uma presença extra, um pouco mais de grave, uma ênfase nos médios que podem ser a diferença êntre você gostar muito de  um instrumento ou ele se tornar simplesmente mais um.

Desde que eu apanhei (e muito, mas conto melhor em outro post) de uma tele e descobri a complexidade e variantes do assunto, estou para escrever sobre esses pedacinhos de metal que equipam nossas guitarras. A unidade da ponte (com seus componentes) são um dos principais pontos de transmissão da vibração das cordas para o corpo e por incrível que pareça o material utilizado na sua construção tem grande peso na equação que resulta o timbre final de um instrumento. Pode-se utilizar a grande variedade disponível no mercado para realmente "tunar" de maneira bem precisa o resultado final.

 Nesse post vamos falar de um item que é um acessório das pontes modelo Tune-o-Matic introduzidas em 1955 pela Gibson nos seus primeiros modelos com Humbuckers, o chamado "cordal" ou Stop-Tailpiece que é nada mais que a peça que segura as cordas numa LesPaul. Mas isso influi no timbre? É o que vamos ver!
A ponte ABR-1 ou Tune-o-Matic foi uma revolução no mundo guitarristico em meados dos anos 50 pois substituia a ponte WrapAround (veja imagem abaixo) permitindo o ajuste fino da intonação das oitavas do instrumento, coisa impossível no modelo anterior. No novo modelo, essa ponte passou a servir de apoio ou base para segurar as cordas, que são apoiadas numa segunda unidade para depois seguir para a escala, mas mesmo assim tem um importante papel na sonoridade e estabilidade do conjunto.
              

Uma vez que o crodal não fica exatamente entre a ponte e o nut, que é onde a maior parte das vibrações da corda acontece, seria lógico pensarmos que ele não influi no timbre de maneira significante, e não tem GRANDE diferença mesmo, mas ela existe.

Nas primeiras LesPaul essa peça era fabricada de Alumínio, um materia de boa rigidez mecânica e extremo baixo peso mas que era de difícil produção em larga escala, por exigir ajustes manuais das arestas depois que saia da usinagem, encarecendo o processo para a Gibson. Atualmente os cordais da Gibson USA de produção são feitos de ZINCO, um material de fácil manipulação industrial e boa resistência mecânica que segurava as cordas tanto quanto o alumínio mas que tem propriedades diferentes, sendo mais pesado e duro. Vale nota que todas as Re-edições da Gibson Custom Shop das guitarras dos anos 50-60 vem com cordal de alumínio.

Mas qual a diferença no timbre então? Simples e direto, a guitarra com cordal de Alumínio gera um timbre acústico mais aberto, com mais presença de agudos e mais "ar" acústicamente. O cordal de ZINCO possui um timbre de alguma forma mais fechado, com menos agudos acusticamente. Parte dessas característica é sim captada pelos captadores, mas é importante ressaltar que os captadores de baixo ganho são os que mais perceberão as diferenças e um monstrinho de alto ganho provavelmente passará batido.

Não tenho exata certeza do por quê isso acontece, mas acho que as cordas fazem o conjunto todo da ponte ABR-1 + cordal vibrar junto com o corpo, e por isso influencia no som. É bom salientas também que existem muitas qualidades de ZINCO. Notei diferenças no ataque e no timbre de um cordal original de Epiphone ao substituí-lo por um também de ZINCO da GOTOH que era mais pesado e bem acabado. A ponte também foi trocada e o conjunto todo ficou muito melhor. A diferença de precisão do timbre, rapidez da resposta no ataque tudo melhorou.

O Paulo May do blog Louco por Guitarra já havia me alertado sobre as diferenças do cordal e disse que preferiu o de ZINCO na sua Gibson LesPaul Standard 1981 por achar que o som do Alumínio ficou meio magro. Na minha Gibson LesPaul Traditional eu gostei do som do Alumínio e deixei assim, mas uso o de Zinco na minha Epiphone JoePerry e na minha Gibson Tribute 50.

Qual o melhor? Você quem decide! rsrs! Se você acha que sua LesPaul soa grave demais e precisa de um pouco mais de ar no timbre esse pode ser um upgrade que você pode experimentar. Deixe seus ouvidos decidirem!

 O Paulo havia me enviado umas gravações que ele fez com a guitarra dele, mas achei esse vídeo com demosntrações das duas opções no YouTube e ele traduz de maneira um pouco mais clara as diferenças dos dois. Notem a maior abrangência de frequências do Alumínio especialmente no Clean!! No ganho um pouco mais alto elas vão diminuindo bastante. É exatamente o que eu ouço aqui!


Como eu disse anteriormente, conhecer essas variáveis que podem parecer mínimas as vezes podem ser a diferença entre você chegar no timbre que tanto procuramos. Pelo menos experimentar é bastante divertido!!